“Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sozinho menino entre mangueiras
lia a história de Robinson Crusoé,
comprida história que não acaba mais.”
Nesses versos do poema Infância de Carlos Drummond de Andrade, contemplamos a leitura literária na cena familiar. E mais: a cena familiar na leitura literária. Trata-se do gesto significativo do menino solitário deslocado nas relações familiares. É essa leitura que lhe possibilita encontrar a ressonância na solidão do outro distante, descobrindo que sua “história era mas bonita que a de Robinson Crusoé”. Da sociedade mineira patriarcal para o contexto contemporâneo, do isolamento interiorano para o ruidoso mundo das mídias digitais, como tem sido a leitura literária na cena escolar hoje? Exaustivamente, pesquisadores e professores têm apontado problemas no ensino da leitura literária, com modelos classificatórios, não reflexivos e descontextualizados. Mas, explorando o outro sentido do termo problema, que possíveis perguntas podem mobilizar pesquisas na reflexão sobre relações mais significativa entre a literatura e a escola? Esse é um dos questionamentos do pesquisador contemporâneo. É uma das tarefas a que tem se dedicado o grupo de pesquisas “A enunciação literária na cena escolar”.